A contemplação, como um valor fundamental da vida Carmelita, deve ser entendida como a jornada interior da pessoa, levando à unidade de amor com Deus, elevando a pessoa para que esse amor gratuito seja descoberto e a pessoa viva nessa presença amorosa. Esse amor esmagador por Deus leva a uma experiência transformadora: nos esvazia de nossos caminhos humanos limitados e imperfeitos e os transforma em caminhos divinos.
Buscar o rosto do Deus vivo é claramente refletido na Regra de São. Albert, que descreve uma comunidade totalmente dedicada a uma atenção orante à Palavra. A contemplação começa quando nos confiamos em Deus. É uma atitude de abertura a Deus, cuja presença descobrimos em todos os momentos.
Os carmelitas se comprometem a fazer do Cristo crucificado o centro de suas vidas. Ao viver essa atitude de contemplação a cada momento da vida, os carmelitas canalizam toda a sua energia inteiramente para Cristo, derrubando quaisquer obstáculos se desasgatando ou esvaziando-se de tudo o que impede a total dependência dele ou impedindo a perfeita caridade para com Deus e para com os outros.
Este processo de desapego ou esvaziamento leva à união com Deus - o objetivo final de todo o crescimento humano. Usamos expressões como “pureza do coração” (puritas cordis) ou “disponibilidade total para Deus” (vacare Deo) e a experiência do deserto para capturar o conceito de desapego.
A fraternidade,
Essa atitude de contemplação nos permite descobrir a presença de Deus não apenas nos eventos da vida cotidiana comum, mas especialmente ver Deus em nossos irmãos e irmãs. Como tal, aprendemos a apreciar o mistério daqueles com quem compartilhamos nossas vidas.
A fraternidade é a área em que a transformação dentro de nós é testada. A Regra Carmelita exige que sejamos essencialmente irmãos e irmãs. Isso nos lembra fortemente que a qualidade das relações interpessoais dentro da comunidade carmelita precisa ser constantemente desenvolvida e aprimorada.
Para os carmelitas, ser irmãos e irmãs significa crescer em comunhão e unidade, superar privilégios e distinções, em um espírito de participação e co-responsabilidade, compartilhar posses materiais, um programa comum de vida e carismas pessoais; ser irmãos e irmãs também significa cuidar do bem-estar espiritual um do outro.
A oração,
A oração é a maneira como os carmelitas se relacionam com Deus, tanto como indivíduos quanto como comunidade. Na oração, torna-se aberto a Deus, que gradualmente transforma a pessoa através de todos os eventos - grandes e pequenos - de suas vidas. Este processo de transformação permite sustentar relacionamentos autênticos; torna-se disposto e ansioso para servir, além de ser capaz de compaixão e solidariedade. Com a oração, é permitido apresentar a Deus todas as aspirações, a angústia, as esperanças e os gritos do povo.
A prática da oração não é apenas a fonte da vida espiritual dos Carmelitas; a oração também determina a qualidade de nossa vida fraterna e de nosso serviço no meio do povo de Deus. A oração de confiança, se praticada com fidelidade em meio aos complexos eventos da vida diária, faz da irmandade carmelita uma testemunha da presença viva e misteriosa de Deus no meio do povo.
O serviço,
Entre os dons do Espírito à Ordem está a vida evangélica - o compromisso dos membros de responder ao chamado de Cristo, vivendo e espalhando ao mundo seu poder transformador e libertador. Esta vida evangélica é caracterizada por uma intensa busca por Deus, que é expressa na vida fraterna e no zelo apostólico.
Como parte da natureza contemplativa, a carmelita busca o rosto de Deus no mundo. A tradição carmelita se entende como uma parte viva da Igreja e da história, capaz de ouvir o mundo em que vive e disposta a ser questionada por ela. Essa tradição está pronta para enfrentar os desafios da vida e dar uma resposta evangélica autêntica baseada no carisma. Os carmelitas mostram solidariedade com todos os que sofrem, que esperam e que se comprometem com a busca pelo Reino de Deus.
Essa maneira de estar “no meio do povo” é, em última análise, um sinal e uma testemunha profética. É uma mensagem profética de justiça e paz na sociedade e entre as pessoas. A Boa Notícia exige que essa profecia seja cumprida por meio de um compromisso ativo de transformar sistemas e estruturas pecaminosas em sistemas e estruturas cheios de graça.
Também é uma expressão da escolha de compartilhar a vida dos “pequenos” (menores). Dessa forma, as carmelitas falam uma palavra de esperança por suas vidas e não apenas por suas palavras. Essa opção flui naturalmente da nossa profissão de pobreza em uma tradição mendicante. Também está de acordo com nossa lealdade a Cristo Jesus viver em lealdade aos pobres e àqueles em quem o rosto de nosso Senhor é tão claramente refletido.
Que a serenidade do Cristo Ressuscitado e o amor de Nossa Senhora do Carmo acompanhem sempre todos nós.
Em Cristo Jesus,
Mariana, Mosteiro de Nossa Senhora do Monte Carmelo, 25 de Abril de 2024.
